Revolucionar a nossa maneira de enxergar a energia: vê-la, ou melhor, imaginá-la como uma imensa força capaz de melhorar as nossas vidas. Será essa ideia ficção científica? Ray Bradbury, um dos mestres deste gênero literário, definiu assim a ficção científica: "observar as novas máquinas que gradualmente aparecem, e imaginar usos incríveis para elas." Por este ângulo, a resposta para a pergunta acima deve ser sim. E este não é meramente um exercício estilístico porque, de acordo com Bradbury, a ficção científica "finge olhar para o futuro, mas está realmente olhando para um reflexo do que já está à nossa frente."
"A Energia como uma Plataforma Digital", ou a poderosa verdade que a energia está nos mostrando em suas milhares de consequências, foi de fato o tema central da edição do #EnelFocusOn que aconteceu no Enel Innovation Hub & Lab (Centro e Laboratório de Inovação da Enel) em Milão no dia 22 de outubro. A 18ª edição de nosso ciclo global de discussões abertas, que começou há três anos e que já foi transmitido para mais de 17 milhões de espectadores, envolveu especialistas e influencers de oito países.
Silvia de Francisci, Head de Novas Tecnologias e Inovação na Enel Brasil, discutiu o tópico, enquanto o discurso principal foi dado por Kathryn Parsons, co-fundadora e CEO da Decoded, uma empresa de treinamento em tecnologia criada em 2012 com o compromisso de ensinar programação para qualquer pessoa, em qualquer lugar. Um empenho que foi um pouco visionário mas, não obstante, que foi mantido: hoje, a Decoded tem atividades em 85 cidades globalmente e introduziu mais de meio milhão de pessoas aos segredos do código binário.
O idioma de dados para o desenvolvimento da humanidade
"Nos últimos 100 anos, nosso mundo mudou radicalmente," começou Parsons, "mas a maneira como aprendemos permaneceu essencialmente a mesma. Se você pensar na última experiência de aprendizado que te transformou, tenho certeza de que terá sido há muito, muito tempo atrás. Quando paramos de aprender? Estimativas nos dizem que até 50% dos trabalhadores de hoje, se não forem capazes de aprender algo novo, serão substituídos por máquinas nos próximos 10 anos. De posse desta informação, temos duas opções: ou dizemos que iremos anular 50% da população trabalhadora do mundo, ou teremos que começar a aprender de novo."
Para Parsons, temos tudo a ganhar ao aprender a língua da tecnologia, e em especial análise de dados, uma vez que "todo setor econômico se baseia em, e será cada vez mais baseado em, informação," e somente nos Estados Unidos a demanda não satisfeita por analistas de dados equivale a 2,8 milhões de empregos. A possibilidade de aprender "deveria estar disponível para todos: o idioma de dados é como qualquer outra língua; ser capaz de usá-lo não deveria ser prerrogativa apenas dos nerds, assim como o estudo de grego antigo não deveria estar limitado a arqueólogos."
Por que essa democratização? Porque qualquer um que se torne proficiente neste idioma, qualquer que seja seu histórico profissional, será potencialmente capaz de contribuir para o desenvolvimento da humanidade. Este é o motivo, a empreendedora de tecnologia continuou, pelo qual a Finlândia ofereceu a seus cidadãos cursos online gratuitos em programação e Inteligência Artificial.
"Quando falo em desenvolvimento da humanidade, me refiro ao fato de que as novas ferramentas tecnológicas, se disponíveis para todos, podem resolver rapidamente problemas de incrível complexidade que até poucos anos atrás pareciam insolúveis, tais como certas patologias, ou questões relativas ao setor de energia."
De fato, a energia, combinada às novas tecnologias, pode permitir mais economia de energia. Um caso exemplar é o das centrais de dados do Google que, graças ao uso de Inteligência Artificial, conseguiram reduzir em 40% seu consumo de energia para refrigerar seus servidores.
As cidades enquanto laboratórios de tecnologia
Em suma, o único limite para nossa viagem para o futuro é nossa imaginação, o cartão de embarque é a energia e a primeira parada é o ambiente urbano, que, de acordo com Silvia representa um completo "laboratório onde se pode testar novas tecnologias em tempo real".
Em um mundo onde estima-se que 70% da população mundial irá morar em megacidades até 2050, "a combinação de eletrificação e digitalização (esta última permitindo o uso cada vez mais amplo e eficiente de energias renováveis) será um fator crucial para a urbanização sustentável, facilitando a descarbonização e contribuindo para alcançar o objetivo de megacidades com zero emissões".
Redes orientadas por dados, explicou Silvia, estão no centro deste processo. A conectividade avançada possibilita serviços urbanos inteligentes e cria comunidades digitais, contribuindo de forma significativa para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) delineados na Agenda 2030 das Nações Unidas.
"Estamos cumprindo o nosso papel ao aplicar o conceito da plataforma digital ao nosso mundo, para criar um ambiente que é aberto, acessível e sustentável, envolvendo todas as partes interessadas em um ecossistema compartilhado."
Em particular, redes inteligentes promovem economia de energia, levando também a uma maior conscientização do consumo, graças a dados que os clientes podem acessar em tempo real. Isso garante maior estabilidade e confiabilidade do suprimento de energia, reforçando a rede elétrica em geral, limitando a dissipação de potência e impulsionado a eficiência e resiliência ante eventos climáticos extremos que, graças às mudanças climáticas, teremos cada vez mais que levar em consideração. Por fim, mas não menos importante, elas facilitam uma expansão cada vez maior de serviços com zero emissões, tais como a mobilidade elétrica.
Inteligência Artificial e a "gêmea digital"
Entretanto, continuou Silvia, "para nós, as redes inteligentes são apenas o ponto de partida. Com 20 anos de experiência em redes inteligentes, estamos prontos para o próximo passo – a chamada Network Digital Twin (Gêmea Digital da Rede), uma réplica perfeita de nossa rede que reproduz a sua estrutura e processos em tempo real. Este é um exemplo de uma verdadeira plataforma de energia onde a automação, a Internet das Coisas e o poder da Inteligência Artificial, unidos às incríveis possibilidades de interação entre a humanidade e a plataforma oferecida pelas tecnologias de última geração, estão criando uma nova e empolgante fronteira no gerenciamento da infraestrutura de redes." Nosso Grupo já estão explorando esta fronteira no Brasil, em São Paulo, onde recentemente lançamos a primeira Network Digital Twin da América Latina no bairro da Vila Olímpia. O progresso nesta frente nos permite imaginar (ecoando o "imaginar usos incríveis para as novas máquinas" de Bradbury) uma quantidade extraordinária de novos serviços e benefícios para as cidades do futuro em uma escala infinitamente mais vasta, e mais compatível com as dimensões gigantescas que as previsões demográficas indicam para as megacidades de 2050.
"Não estamos falando sobre ficção científica," explicou o Diretor de Comunicação da Enel, Roberto Deambrogio, ao fim da mesa redonda. "Este mesmo prédio, o Centro e Laboratório de Inovação da Enel, abriga tecnologias extraordinariamente avançadas: por exemplo, podemos simular um blecaute afetando até um milhão de pessoas em várias partes da Itália. Isso nos permite desenvolver planos de contingência para restaurar a eficácia da rede no caso de um evento catastrófico como esse. Tecnologias desse tipo seriam impensáveis apenas alguns anos atrás. Hoje elas são uma realidade tangível que está em constante desenvolvimento."